terça-feira, 20 de outubro de 2015

Este artigo vem do expresso do qual achei muito interessante e resolvi partilhar . Estou completamente de acordo com este artigo.....

Já lhes chamaram egocêntricos, fúteis e encostados aos pais. Hoje, os millennials são vistos como ambiciosos, confiantes, progressistas e versáteis. Estar vivo é o contrário de estar offline, dominam a tecnologia e vão dominar o mundo. Vivem de biscates e aprenderam a ganhar dinheiro com hobbies e negócios que criaram na internet - uma facilidade que os pais não percebem. E a política não lhes interessa: “Esta geração não acha que pode mudar o mundo e não confia nos políticos, nem nas instituições”. O que falta em confiança nos políticos sobra em confiança na tecnologia, através da qual partilham tudo. Até demais





BomDia.

 Acordar estremunhado, alcançar o telemóvel que repousa ao lado da cama e enviar uma foto à namorada através do Snapchat, mas só apenas durante cinco segundos, para ela não se fixar no cabelo despenteado. Manter em paralelo outra conversa com um grupo de amigos no WhatsApp.
Aproveitar o mood e escrever uma frase bem disposta no Twitter porque está sol e o dia convida à praia e a apanhar umas ondas. Adicionar um vídeo no Instagram com a acrobacia que o gato acaba de fazer a tentar alcançar uma mosca. Partilhar a mesma imagem no Facebook, acrescentar um comentário à maneira e passar os olhos pelas notícias ali partilhadas.
De caminho ir ao YouTube, também através do smartphone, ver alguns videoclips, tutoriais e, de repente, ficar fixado nos bastidores das filmagens de uma cena de luta da série "A Guerra dos Tronos" e partilhá-la igualmente nas redes sociais. Esperar likes. Muitos. Mais do que dez, vinte, já quer dizer que valeu a pena, é como uma série de palmadas reconfortantes nas costas, de "estás a ir bem, pá".
Nos dias em que os likes são mais do que muitos, a adrenalina é bem maior, e sente-se uma sensação de poder perante uma audiência escolhida. No emprego, voltar a repetir algumas destas ações para manter contacto com a comunidade de amigos e conhecidos. Estar vivo é o contrário de estar offline.

ELES SÃO DE FÁCIL ADAPTAÇÃO À MUDANÇA

Esta é uma das características principais da geração millennials, uma definição criada pelos autores norte-americanos William Strauss e Neil Howe e que engloba os jovens entre os 15 e os 35 anos, filhos da Geração X e netos dos baby boomers, considerados a primeira geração de nativos digitais.
O conceito americano desta geração aplica-se em grande parte ao perfil dos jovens portugueses, embora com alguns matizes. O principal traço distintivo que os une e os define como millennials é terem crescido com acesso à internet e a relação íntima que estabeleceram desde cedo com as novas tecnologias.
"Eles são caracterizados por serem fast adopters, velozes na experimentação e integração do digital no quotidiano. E assumem novos valores, mais focados na experiência e menos no lado material", aponta Inês Freitas, autora do estudo "Os millennials em Portugal", pela Escola Superior de Comunicação Social. É o seu caso?

MAIS EXIGENTES QUE TODAS AS ANTERIORES GERAÇÕES?
João Vasconcelos, presidente da Start Up Lisboa, uma incubadora de ideias, fala dos millennials portugueses como a primeira geração do país preparada e com visão global para competir com os melhores do mundo. "São culturalmente evoluídos, viajados, ambiciosos, com ideias e negócios sofisticados, globais, que têm lugar em Silicon Valey", assegura.
E dá como exemplos a empresa portuguesa Uniplaces, especialista em arrendamento de alojamento para universitários [que acaba de conseguir o financiamento de €5 milhões junto de investidores] e os Talkdesk, especialistas em software na nuvem, que arrecadaram 15 milhões de dólares (€13,2 milhões) junto de investidores americanos. "Estes nossos jovens têm uma maneira de pensar e viver de acordo com os padrões internacionais. Uma grande diferença em relação à minha geração, a X, em que isso não acontecia de todo. E foi claramente a internet a tornar possível esta democratização do negócio e das ideias", diz o presidente da Start Up Lisboa.
César Gonçalves, partner da PwC Portugal, partilha da mesma opinião e acrescenta: "Os millennials são mais exigentes do que todas as anteriores gerações. Não procuram trabalho, procuram mais oportunidades e projetos que vão ao encontro das suas realizações pessoais. É uma geração formada por indivíduos com várias competências e grande flexibilidade no trabalho", avança. Considerada a geração mais influente da história americana, a que fez com que Obama subisse ao poder, os millennials são em maior número e estão a ocupar o mercado de trabalho e a mudar o paradigma de vida e de consumo.
Sabem usar as ferramentas digitais como ninguém, fintam os preços altos e encontram as melhores oportunidades online. "Os millennials caracterizam-se por terem gastos médios diários mais baixos, fruto da pesquisa permanente que fazem [69% visitam os sites de venda de retalho]. Quando entram numa loja utilizam o telemóvel para pesquisar determinado produto e encontrar a melhor oferta ou a oportunidade para adquirir esse mesmo produto de forma personalizada e exclusiva. São um tipo de consumidor exigente, informado, a primeira geração verdadeiramente globalizada. E um desafio para as marcas, pois mais de 60% dos millennials acedem às redes sociais todos os dias", explica César Gonçalves.
De acordo com um estudo da consultora Boston Consulting Group (BCG), de 2012, no que toca ao perfil de consumo, os millennials revelam uma tendência para a gratificação instantânea, querem o 'agora' e o 'já' e valorizam a velocidade e conveniência no acesso a produtos e serviços. Têm uma lógica menos materialista e vivem valores mais profundos de felicidade, paixão, diversidade, descoberta e partilha.

PARTILHAR EM VEZ DE COMPRAR

Partilhar é de resto o verbo que mais conjugam. Comprar um carro caro? Não. Contrair empréstimo para uma casa? Nem pensar. Comprar roupas e produtos de luxo? Nunca. Os millennials preferem pedir emprestado, alugar, usufruir em vez de ter. A experiência é a mesma. E estão a dar fôlego a uma nova economia de partilha, é o que aponta um recente estudo da Goldman Sachs. O escritor e economista norte-americano Jeremy Rifkin chegou mesmo a vaticinar que daqui a 25 anos "a partilha de carros será a norma e ser proprietário de uma viatura uma anormalidade".
Por cá, não faltam sinais a apontar nesse sentido. Começam a abrir lavandarias automáticas nas grandes cidades, a dispensar a compra das máquinas e a maçada da secagem, aumentam as empresas de car sharing, o negócio dos Airbnb, abrem negócios de aluguer de roupas de marca e sites de partilha de filmes, séries e músicas.

UMA GERAÇÃO DE FILHOS DESPREOCUPADOS COM PAIS PREOCUPADOS

Também nos EUA a percentagem de jovens casados e a viver por sua conta caiu mais de 50% desde 1960. E se em 1970 a média de idade para o matrimónio andava pelos 23 anos, em 2010 subiu para os 30 anos. Em 2011, a esmagadora maioria dos jovens (68%) residia com pelo menos um dos pais e apenas 21% tinham constituído a sua própria família.
Segundo o sociólogo Vítor Sérgio Ferreira, a fase adulta chega mais cedo para os millennials anglo-saxónicos do que para os da Europa do Sul - sejam portugueses, espanhóis ou gregos. "Os da Europa do Sul são mais tardios na transição para a idade adulta. A juventude prolonga-se pela conjuntura económica. Não conseguem sair de casa dos pais, mas têm ao mesmo tempo uma grande liberdade e autonomia. As relações entre pais e filhos nas gerações anteriores eram mais autoritárias. Hoje, a margem de negociação é superior e o controlo dos pais é maioritariamente feito à distância. 'Não desligues o telemóvel', pedem os pais que estão no trabalho."
Sem stress, dizem eles. "Esta é uma geração de filhos despreocupados com pais preocupados", afirma Luís Pereira Santos, CEO da McCan Lisboa. "Os filhos sentem que podem viver com um grau de dependência dos progenitores, que lhes dão segurança, mas os pais estão apreensivos com as suas perspetivas de trabalho. Os jovens já cresceram sem a ilusão da segurança e do emprego para a vida. Vivem de biscates e aprenderam a ganhar dinheiro com hobbies e negócios que criaram na internet. Uma facilidade que os pais não percebem. Dou como exemplo um miúdo com jeito para o design que, num instante, faz uma linha de t-shirts, cria uma marca, vende online e faz dinheiro. Isto acontece muito com as mais variadas ideias. Ou seja, a forma como os jovens gerem as redes sociais e tiram valor disso dá-lhes uma certa segurança que os pais não percebem."

O CORPO JÁ NÃO É UM DESTINO, MAS UM ACESSÓRIO MOLDÁVEL

São a geração multitasking e slash (os faz-tudo), que se formou em áreas de especialidade mas a quem o mercado de trabalho pediu para serem versáteis e generalistas. E eles adaptaram-se. "Hoje um jovem pode ser ao mesmo tempo designer, tatuador, ilustrador, DJ e barman. A sociedade valoriza cada vez mais a experiência diversificada e as competências informais", retrata o investigador do Instituto de Ciências Sociais Vítor Sérgio Ferreira, que participou no estudo "Emprego, mobilidade, política e lazer", do Observatório Permanente da Juventude.
Para os millennials, o mundo, como a carreira, não tem fronteiras. Revelam-se empreendedores e ambicionam chegar a cargos de topo. Mais de um terço dos millennials portugueses (31,2%) mostram predisposição para iniciar o seu próprio negócio em caso de desemprego. Associada à geração do novo milénio está a busca das notícias nas redes sociais, principalmente no Facebook, no caso dos americanos. Os jovens portugueses continuam a usar a televisão como meio principal de informação.
São uma geração focada na alimentação saudável, no desporto e no cuidado com o corpo (fumam menos). Os millennials já não veem o corpo como um destino, mas como um acessório moldável, uma construção de identidade. "É a ideia de que se o corpo já não representa o indivíduo, o indivíduo pode fazer algo para que o corpo o represente melhor. Através de tatuagens, piercings, cirurgias estéticas", diz Vítor Sérgio Ferreira.
O que é também característico desta geração, bem mais do que nas anteriores, é o desinteresse pela política. Parecem mesmo de costas viradas, como se não fosse com eles. Em Portugal mais de metade dos jovens entre os 15 e os 24 anos (57,3%) revelam não ter qualquer interesse pela política e outra grande fatia, a dos 25 aos 34 anos (87%), responde ter pouco ou nenhum interesse. Apenas uma pequena minoria diz ter "cor política". Dados preocupantes para refletir e que justificam em parte a maior abstenção de sempre nas últimas legislativas (43,07%). É de esperar que a novela da política portuguesa Passos vs Costa, coligação à esquerda, coligação à direita para a formação do novo Governo, ou a corrida à Presidência da República sejam assuntos a passar ao lado destes jovens...
"Esta geração não acha que pode mudar o mundo e não confia nos políticos, nem nas instituições. Não acreditarem que os nossos governantes possam fazer algo pelo país. Eles sabem bem que existem instituições internacionais a ditar as regras. E, por isso, demitem-se de participar. Parece-me um dado perigoso . Até porque na Europa há um recrudescimento do nacionalismo e da extrema-direita. Outra explicação que arranjo é que esta geração é herdeira de uma falta de cultura cívica e política. Salazar soube domesticar muito bem as pessoas", afirma o investigador Vitor Sérgio Ferreira. O que falta em confiança nos políticos sobra em confiança na tecnologia, através da qual partilham tudo. Até demais.

A DEPENDÊNCIA DA INTERNET

Atento a este novo paradigma comunicacional da era digital, o psicólogo João Faria, coordenador do núcleo de intervenção às dependências da internet e videojogos do PIN, Centro de Desenvolvimento Infantil, alerta para o facto de esta geração ter um enorme desafio na gestão do espaço público e privado e com menos tolerância à espera e à frustração.
"O mundo tem-se tornado tão rápido, à distância de um clique, mas ao mesmo tempo continuamos a ter de esperar pelos progressos na escola, pelas notas, por ter uma carreira, por ter um bebé. E os jovens entram em choque entre o mundo imediato e a espera a que a vida obriga. Essa é uma das razões para o crescente número de jovens com dependência da internet e dos videojogos. Porque aí conseguem encontrar a eficácia e o feedback imediato que não encontram, por exemplo, na escola e no emprego. E o meu trabalho é ensiná-los, pouco a pouco, a viver também em modo offline", esclarece João Faria.
Boanoite.

Novo Snapchat ao deitar. E uma selfie para partilhar.

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