sábado, 19 de julho de 2014

Sexo na rua por por 20 €




Prostituição na Rua!!!!

 

Como este texto é muito grande vou publicá-lo no meu blogue e quem estiver interessado em ler é só ir até lá…. ( Resolvi por a entrevista do DN toda por achar muito interessante na totalidade. 

Todos os dias passo, e por vezes várias vezes ao dia por umas almas que estão à beira da estrada, umas vez sentadas em pedras outras dentro do carro. E não há dia nenhum  que não vá apensar neste assunto continuamente até ao meu destino; (E porquê? porque eu errei e cada vez tenho mais a certeza disso a minha profissão ( sociologia ou psicologia, assentava-me que nem uma luva , por serem duas licenciaturas que são a minha cara) agora Relações Publicas, mas que jeto?  …., hoje em dia quem não faz nenhum é RP. Felizmente no meu tempo não era nada disso… mas também gosto muito e ajuda.

Mas esta conversa toda para dizer o quê? a semana passada ía sozinha no meu “boguinhas” e parei o carro, mais  menos junto a elas reparei que não levava os óculos escuros e conduzir se eles é um impossível. Parei, como já referi, para mudar de óculos, e de repente, ( do qual apanhei um susto ) vejo uma pessoa antipaticamente surgir ao meu lado: perguntando o que é que eu queria, e o que estava ali a fazer (pensou que lhe ía tirar a vez de certeza, coitados/as  de mim delas e deles!!! ) lá lhe disse o que era, a senhora acalmou e pediu-me um cigarro do qual  respondi que não fumava,  já me tinha deixado disso há uns tempos e que tinha fumado durante 42 anos. Bem palavra puxa palavra e eu como toda a gente sabe que falar não é comigo, fiquei ali parada a conversar pelo menos 2 horas à vontade, e não foi mais, porque tinha horas marcadas . E hoje cheguei a casa mais ou menos às 11 horas da noite e elas estavam lá, a chover desalmadamente à espera, de quê ou de quem? Vim novamente a pensar, aí

 já estava perto de casa. E pensei é hoje que eu vou desabafar com o computador ….

 E porque é que começou a conversa com elas? a conversa começa, porque quase todos os dias ( a meio da tarde)  eu vejo um rapaz novo com muito bom aspecto e com duas cadeirinhas de bebe atrás. E isso perturba-me hoje em dia ….

 Ela ( a tal de Tânia) disse-me que tinha mudado de Leiria/Figueira e que tinha saudades ( saudades de outras vidas por onde passou) acrescentando que tinha dado uma entrevista há uns tempos ao DN e nunca tinha visto. À bocado quando cheguei a casa fui em buscas e encontrei. Li, é mais ou menos igual ao que ela me contou mas muito mais interessante, deixo aqui para quem tiver paciência para o  ler, reflectir, julgar, não, e ter pena também não, maneira fácil de ganhar a vida? Talvez, mas é preciso ter um grande “estômago”, (pelo que soube!!! ) portanto será mesmo  fácil de ganhar dinheiro? , homens, como ela me disse juízes, homens novos, mulheres, proliferam mulheres neste momento, rapazes novos, médicos, ( um é o médico de saúde dela) impostos como é? Reforma como é? Tantas e tantas  perguntas.

Só vos posso dizer mais uma vez que, errei a minha profissão, e amei esta conversa, linda maravilhosa, simples e como diz o fado “cheia de encanto e beleza”  sem nada na manga, sem falsidades, uma resignação com uma certa indignação à mistura, algo de estranho….

Enfim  “Vidas” que por vezes ( ou sempre ) hoje em dia me custam muito a aceitar, mas quem sou  para fazer juízos de valor…..

 

Proxima encarnação;  curso superior, mestrado e doutoramento em problemas sociais Ok? E se calhar nessa altura sacerdotisa também dá jeito …..  

 

Diário de Notícias

Sexo por 20€ à beirada da estrada. 

Apesar de o mercado do sexo ser cada vez mais diverso, ainda há muitas mulheres que vendem o corpo na berma da estrada. A explicação, segundo dizem, prende-se com a segurança. Fugir de um cliente violento numa mata é mais fácil do que gritar e pedir socorro entre quatro paredes. Mais.  Na mata o sexo  é barato, rápido  e menos exigente. O DN foi descobrir  as histórias  de mulheres  que usam o corpo como instrumento  de trabalho  e descobriu portuguesas, estrangeiras, independentes  e vítimas  de verdadeiras redes de tráfico humano que operam no País.

Nos dias em que os clientes faziam fila na berma da estrada para dez minutos de sexo, Tânia, 32 anos, ponderou adoptar um sistema de senhas. "Discutiam e tudo, para ver quem vinha primeiro", revela, irónica, com um sorriso na cara, onde os doze anos na prostituição não cravaram uma única ruga.

Tânia é das poucas mulheres que não se despe, nem se exibe seminua na estrada que liga Leiria à Figueira da Foz. A carteira de clientes, mais ou menos fixos, permite-lhe um certo recato e oferecer serviços sexuais na carrinha que conseguiu comprar com "muito trabalho".

A carrinha branca está estacionada na mata, a metros da estrada, todos os dias das 10.00 às 18.00. E garante-lhe mais do que privacidade. Protege-a do frio, da chuva, do sol, livra-a de clientes indesejados. E assegura, sobretudo, que o filho, agora com 16 anos, não descubra que a profissão da mãe não é a de uma mulher de limpeza. Mas, num termo mais antiquado, a de rameira.
Ela não se importa de ser chamada assim. Até porque impõe regras. "Não me dispo. Estou sempre de calças e camisola e só tiro uma perna das calças para o serviço." O serviço, entenda--se sexo, custa 20 euros. Mas não é para todos os gostos. "Só faço vaginal. Não gosto de anal e de oral."

Tânia aprendeu a vender-se num clube espanhol, perto de Vilar Formoso. Foi levada por um casal amigo, que chegou a dar- -lhe trabalho como ama, antes de ela engravidar e dar à luz um menino. Pouco faltava para completar os 19 anos. "Não me dava com os meus pais e tinha de sustentar o meu filho", lembra.

O trabalho na casa de alterne não durou mais de três meses. Mas mudou-lhe a vida. Foi ali que conheceu Susana, quatro anos mais velha, e descobriu o amor. "Foi muito difícil, demorou algum tempo até aceitar que gostava de mulheres", diz envergonhada.

Não faltou muito para que as duas amantes abandonassem o trabalho no clube para se empregarem em casas na zona da Figueira da Foz, de onde Susana é natural. "Conhecia um chulo, que entretanto foi preso, que me levou para Espanha. Foi fácil arranjar depois trabalho por aqui", diz Susana, que também já comprou uma carrinha e presta serviço na mesma estrada, a cerca de um quilómetro de Tânia.

O trabalho nos clubes, diz, é "mau". "Temos de dar parte do dinheiro aos donos e exige maior empenho. Depressa percebemos que era na rua que iríamos conseguir ser independentes", lembra Tânia. Os clientes que procuram sexo na berma da estrada sabem que se excederem os 10 minutos têm de pagar mais.

"Antes tinha mais paciência. Agora já não", refere Tânia. Os exemplos para a "paciência" necessária são diversos. "Tenho um cliente já velhinho que, quando vem aqui, perde os dez minutos a entrar e a sair da carrinha. Já mal se mexe, tenho de ajudá-lo. E acabo por não fazer nada e receber o dinheiro", confessa em jeito jocoso. Há aqueles que procuram palavras de conforto. Como um que, dias antes, parou o carro e a chamou. "Perguntei-lhe o que queria. Ele disse que só queria conversar."

O "cliente" tinha sido traído pela namorada e estava a precisar de desabafar. "Não sou padre. Se quiseres pagas 20 euros pelos dez minutos", respondeu-lhe Tânia, a quem os clientes têm faltado no último ano.

Susana sempre assumiu que tinha preferência por mulheres. Cabelo curto e roupa masculina, quando revela o seu percurso fá-lo no masculino. "Sou colectado, empresário em nome individual. Se não fossem os recibos verdes não podia ter pedido o empréstimo para a minha casa", diz do lugar do pendura da carrinha, com o braço pendurado na janela.

Os clientes não lhe assinam os recibos, que passa como se fosse uma mulher da limpeza, mas ela encontra forma de declarar despesas "através de pessoas conhecidas".

Susana recorda bem a primeira vez que se prostituiu. Tinha 20 anos, trabalhava numa fábrica de apliques para calçado e todos sabiam que só gostava de mulheres. "Sabes como são os homens. Havia um que andava sempre atrás a dizer que queria ir comigo", recorda. O tal homem ainda chegou a dizer-lhe que em troca de umas horas de prazer lhe pagaria a carta.

Ela recusou sempre até ao dia em que decidiu, de facto, ir tirar a carta de condução. "Andava de mota e pensava que o preço não seria muito superior. Quando me pediram oitenta contos (400 euros) não encontrei outra solução", diz.

A "facilidade" com que ganhou o dinheiro abriu-lhe o caminho. Pediu "a um chulo" que a levasse para um clube em Espanha "só para experimentar" e nunca mais deixou "esta vida". "Não consigo tanto dinheiro como aqui", confessa.

Há dez anos, Susana sentiu o apelo da maternidade. Foi ter com um advogado para conhecer as implicações de não dar um pai à filha. "Engravidei de propósito", assume. Aproveitou-se de um homem que durante anos tentou investidas. "Dizia-me que no dia em que eu fosse com ele deixava de gostar de mulheres. Aproveitei", diz sorridente.

Hoje, este homem, casado e com filhos, desconhece que a filha de Susana foi concebida por ele. "Quando fui registá-la disse desconhecer o paradeiro do pai, que era emigrante. A identificação da menina tem apenas o meu nome", diz. Na escola da filha há pais que sabem como Susana ganha a vida. Mas não lhe apontam o dedo e permitem que a criança "faça uma vida normal".

Susana não pretende guardar segredo para sempre. "Assim que ela tiver maturidade sou eu que lhe vou contar", diz. A companheira, Tânia, vive exactamente no mesmo dilema. Como contar ao filho de 16 anos que é prostituta?

Inês Fontinha, responsável pela associação O Ninho que se dedica a acompanhar e reinserir prostitutas, diz que a melhor forma de contar a um filho é "através da psicoterapia". "Não pode ser feito de repente. Tenho visto casos de filhos que rejeitam as mães inicialmente. Depois acabam por perdoá-las, mas pedem que deixem a prostituição", refere.

Susana e Tânia já fizeram planos para deixar a rua. Susana gostava de formar-se em Geriatria e dar apoio a idosos. Tânia adorava tomar conta de crianças. "Mas é difícil entrar noutro trabalho e manter a vida estabilizada que agora temos", confessa Susana.

Uma opinião partilhada pelas duas mulheres já vividas que, à terça-feira, fazem três horas perto de Alenquer, no IC2. Idalina, 54 anos, e a amiga Madalena, 65, esperam por boleia para Leiria quando são abordadas pelo DN.

É difícil perceber que estas duas mulheres, vestidas de saia travada e camisola chegada ao pescoço, vejam na prostituição a forma de compor uma reforma miserável. "Oh menina, acha que ia conseguir pagar as contas com pouco mais de 100 euros por mês?", interroga Madalena, de maquilhagem sóbria e de cabelo arranjado.

Ao final da manhã, a mais velha teve três clientes. A mais nova, que assinala o lugar na mata onde se prostitui com uma boneca, só teve um. "Nós só fazemos sexo à antiga. Aí as novas é que põem a boca em todo o lado", atira Madalena, de poucas conversas.

"Ela é que tem sorte. Às vezes tem um cliente que a leva para um quarto e dá-lhe cem euros", diz Idalina. "Se soubesses o trabalho que me dá", responde. Longe vão os anos em que se faziam valer dos atributos do corpo para cativar clientes. Hoje vale-lhes a paciência.

"Acha que as mais novas perdem tempo com eles? Recebem o dinheiro e ao fim de dez minutos mandam-nos embora. Se soubesse as dores com que fico nos joelhos para ganhar aqueles cem euros", diz Madalena, que recusa pormenorizar as circunstâncias que a conduziram ali. Deixa escapar que toda a vida trabalhou em fábricas ou a tomar conta "dos filhos dos outros". E o dinheiro não chega.

Idalina, mais espevitada, não tem problemas em dizer que quem a pôs na estrada foi o marido com quem casou aos 20 anos. Era a única forma de lhe alimentar o vício do álcool.

"Normalmente elas têm um relacionamento com o chulo. Vêem-no como companheiro a quem têm de ajudar. Há aqui uma relação afectiva que é paga. Ela trabalha e ele dá-lhe segurança. Chamo-lhe a ilusão do amor", diz Inês Fontinha.

Idalina viveu nesta ilusão durante anos, até ganhar coragem para deixar o marido. Mas o dinheiro continuava a escassear. Por isso, vai até Alenquer apenas uma vez por semana. O resto da semana trabalha perto de Leiria. "Agora aquilo está mal. Desapareceu um velhote na mata e a GNR está sempre lá. Assusta os clientes", diz.

Susto apanhou Idalina no dia em que estava no quarto com um cliente e ele sofreu um ataque antes de se deitar com ela. "Tinha tomado dois comprimidos Viagra porque um já não lhe fazia efeito. Deu-lhe um ataque cardíaco, mas não queria que eu chamasse o INEM para não o verem ali comigo", diz entre gargalhadas.

Madalena e Idalina são mulheres tão bem- -dispostas que mesmo quando recordam o mal que lhe fazem sorriem. "Bater ninguém bateu. Mas às vezes vêm aqui assaltar-nos. O melhor é não resistir", diz Madalena.

Foi o que fez Tânia, perto da Figueira da Foz, quando ainda não tinha uma carrinha para fugir. "Costumava ir ali para aquela casa abandonada. Um dia entraram três ciganos, bateram no meu cliente e roubaram-nos ouro, um relógio e dinheiro", recorda.

É por isso que Paula, 32 anos, prefere prostituir-se na mata. "Entre quatro paredes estamos sujeitas a tudo. Podemos gritar que ninguém se mete. Aqui corremos para a estrada e alguém nos acode", diz.

"De facto, as pessoas não percebem porque as mulheres preferem estar na estrada. Mas há razões de segurança por trás", acredita a dirigente associativa Inês Fontinha. "Há uma colaboração entre as mulheres, uma solidariedade. E se acontece alguma coisa, elas ajudam-se", refere Inês Fontinha.

Paula está todos os dias da semana perto de um acesso a uma das praias da Figueira da Foz. O Verão é a altura de mais clientes. "Turistas e emigrantes que vêm visitar a família. Depois há camionistas", conta.

O vestido de ganga justo ao corpo descobre-lhe as pernas. Os atributos físicos de Paula permitem-lhe uma média de dez clientes por dia, "agora em tempo de crise".

Paula lembra-se perfeitamente do dia em que começou a trabalhar como prostituta, há pouco mais de três anos. Trabalhava num lar e estava de relações cortadas com o pai quando soube que ele estava doente com um cancro. "Deixei o orgulho de lado e fui para perto dele. Mas tinha de ganhar dinheiro", conta.

Admite cobrar aos clientes "o preço normal", 20 euros por sexo vaginal e anal e 15 pelo oral. Sem beijos nem carícias. Ao final dos dias mais fracos, pondera baixar o preço do oral em troca de uma boleia para casa. "Quando estou mais stressada não venho. Mas obrigo-me a fazer um dia de trabalho normal, entre as 09.00 e as 18.00", diz.

Se aparece um cliente mais bruto, ou até sujo, Paula não hesita em mostrar-se indisponível. "Vou beber um café e às vezes pergunto às outras raparigas se querem que lhes traga alguma coisa. É a única coisa que falo com elas", diz com um ar altivo.

Na meia hora que Paula disponibilizou para falar ao DN, pararam pelo menos cinco clientes à procura dos seus serviços. Apesar das mulheres que se multiplicam ao longo da estrada, os clientes voltaram mal ela ficou disponível. "Às vezes converso com eles. Muitos são casados, com filhos e quando discutem com eles vêm aqui", diz.

A 225 quilómetros do lugar onde Paula vende o corpo, a oferta é mais variada. A estrada de Coina, que liga Quinta do Conde a Sesimbra, assemelha-se a uma montra humana com mulheres de várias nacionalidades.

A minissaia e o top decotado da brasileira Sirley escondem-lhe os 40 anos, mas a expressão cansada é reveladora de um percurso atribulado.

Sirley deixou o emprego como esteticista para ser um dos 106 961 brasileiros a residirem em Portugal, segundo dados de 2008 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Ainda regressou ao Brasil para ir buscar as duas filhas, agora com 12 e 15 anos, e informar o marido da sua intenção de se separar. Em Portugal casou com um português e obteve a legalização. O vício do álcool do marido arruinou o casamento.

"Separei-me há mais de três anos e foi a única forma que encontrei para ganhar os 1500 euros que preciso para viver", diz. Hoje tem uma média de seis clientes por dia, mas em tempos chegou a ter vinte. "Cheguei a fazer 600 euros por dia", contabiliza, em troca de sexo oral, vaginal e anal. Este último, segundo diz, é o menos solicitado. Sirley diz que só foi agredida uma vez. "Por um chulo a quem não sabia que tinha de pagar."

Em Coina, independentemente dos clientes que tiver, tem de pagar 55 euros a um chulo. Mas a protecção é visível. Assim que o DN terminou a conversa com Sirley, o condutor de um Subaru de vidros escurecidos parou perto dela. "Era só para saber se eu estava bem", contou depois.

"Este chulo é diferente de um companheiro, de um elemento afectivo e de socialização. Este manda no espaço público, ela tem de lhe pedir e ele ainda vai pensar. Para tornar o acesso difícil. Depois, em troca de dinheiro, dá-lhe toda a segurança. E isso acontece", constata Inês Fontinha. Se algum cliente ousar ser violento ou exceder o tempo da visita, o chulo ou proxeneta não hesita em partir para a violência física.

Sirley nunca teve um cliente violento e nem pensa em ir trabalhar para um clube. Ali é mais rápido, "não tem de se envolver".

"Aos olhos dos outros, é necessário tirar as mulheres da rua e acantoná-las em clubes. Ninguém percebe que elas preferem estar ali. E acantoná-las é uma solução fácil para o povo. Mas o que o Estado devia fazer era tirar estas mulheres da rua e reinseri-las na vida em sociedade, ajudá-las com emprego", defende Inês Fontinha.

Pelo menos até as duas filhas acabarem os cursos superiores, Sirley não pensa em ganhar a vida de nenhuma outra forma. Até gostava de abrir um salão, mas nunca conseguiria o dinheiro que as filhas pensam resultar de trabalhos de limpeza. Os clientes, afirma, são de todas as classes sociais. "Desde o peão da obra, ao engenheiro e até jogador de futebol", diz. Não é possível traçar perfis.

Os clientes despertam também a atenção da associação O Ninho, mas dificilmente se chega a eles. Aos olhos do sexólogo Santinho Martins, a explicação mais simplista para um homem casado procurar os serviços de uma prostituta é o facto de ele procurar aquilo "que a parceira não dá". Nada que "não possa ser resolvido com uma conversa sobre o assunto", refere. Menos simples é a explicação que outros profissionais da área procuram dar: "O facto de o homem não ser monogâmico", diz.

Por outro lado, Santinho Martins diverge de Inês Fontinha. Enquanto ela defende a reinserção social das prostitutas, ele considera que elas têm uma verdadeira função social. "Grande parte dos clientes são viúvos, divorciados, jovens sem aptidões sociais e que procuram prostitutas para satisfazer as suas apetências sexuais."

Mary é a primeira prostituta de estrada que aparece no caminho de Setúbal para Grândola, na zona de Águas de Moura. Os óculos graduados roubam-lhe o brilho de uns olhos verdes. Ela diz que tem 23 anos, mas é difícil acreditar numa cara de menina e numa timidez permanente. "Eu só foder por 20 euros." É a única coisa que diz bem em português, apesar de garantir que está há mais de um ano em Setúbal e que não pensa em fazer mais nada.

Um carro com dois homens no interior aproxima-se. Ela fica inquieta e faz sinal com as mãos. "Dois não!" E, a cada vez que lhe mandam piropos, lança palavras romenas, irritada. As parcas palavras de uma das três jovens de cabelo comprido louro, que atacam vestidas de igual na estrada de Grândola, dão a entender que a prostituição é um emprego de Verão. "Na Roménia trabalho com crianças, só venho aqui nas férias", diz Natalia, 20 anos. Dois dedos de conversa, sem uma nota à vista, são suficientes para pôr em alerta o proxeneta, ao volante de um Renault 4L.

"Com a abertura das fronteiras, há redes de leste que introduzem mulheres, algumas menores, em Portugal", diz a fonte contactada pelo DN. As famílias destas mulheres são ameaçadas e elas são obrigadas a entrar num circuito que é difícil controlar.

De regresso a Coina, perto da brasileira Sirley, estão muitas mulheres africanas. Mas o diálogo é quase impossível. Há seis anos em Portugal, Susy mal fala português. Tem as sobrancelhas coloridas com roxo, as tranças vermelhas cobrem-lhe as costas e, enquanto fala, tenta aumentar a curta saia de licra. "Não pagar a ninguém. Só fazer sexo oral por 10 euros", diz .

Uma história que as autoridades desmontam. "A maioria das mulheres africanas na estrada é nigeriana e vítima de tráfico humano", diz uma fonte policial ao DN. Abandonam a família movidas "por um sonho europeu", pensam que vão fazer limpezas ou trabalhar em restaurantes e "ganhar muito dinheiro. Em Portugal, Espanha, França ou Itália vivem afinal um verdadeiro pesadelo.

São obrigadas a prostituir-se na estrada ou em bares de alterne, vivem em casas onde ninguém fala a mesma língua. "São escravas do sexo", resume a fonte. Mais. Estas vítimas são sujeitas a cerimónias de vudu, e acreditam que se tentarem escapar podem sofrer consequências físicas ou ficar sem família. "É muito difícil ajudar estas mulheres a saírem destes esquemas", reconhece Inês Fontinha. Todas elas vivem num constante medo que algo lhes aconteça.

(Os nomes usados são fictícios)



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