quinta-feira, 15 de março de 2012

Lembrar Natália Correia ...




Pintura de Georges Malkine





Natália Correia,1923-1993 mulher de “garra” …..

Hoje lembrei-me de Natália Correia, ( um pouco esquecida? ) não é impressão minha !!! Libertária detentora de um talento múltiplo e absolutamente imprevisível nunca se coibindo em dizer o que pensava.
Na altura conspirava-se o melhor da cultura portuguesa onde ela fazia parte.
Lembro-me do episódio Morgado ( anos 80 ). Um dia, enquanto deputada na Assembleia da República, ( aquando da discussão da dispenalização do oborto, 1982) ouviu o (Dr.?) João Morgado, deputado do CDS, dizer qualquer coisa como isto, "O acto sexual é só para ter filhos." Natália Correia levantou-se rapidamente da sua bancada e retorquiu logo de seguida:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino:
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai de um só rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração ! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada a excepção,
ficou capado o Morgado.

Naquela altura foi uma “bomba” e durante alguns tempos era o tema das nossas conversa todos achamos o máximo a sua coragem em enfrentar o “ Morgado”.
Na realidade tinha uma vitalidade que parecia inesgotável e o seu génio era imparável. Foi uma entusiasta e grande impulsionadora pelo aparecimento do espectáculo de café-concerto em Portugal, na figura do polémico travesti Guida Scarllaty, o actor Carlos Ferreira, na época um jovem arquitecto de quem era grande amiga. Na sua casa, foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.
Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de Santiago.

Com 4 casamentos frustrados, o ultimo com Dórdio Guimarães, ( poeta, cineaste e jornalista – Vida Mundial ) e ao mesmo tempo seu colaborador de vários anos.
Mas, segundo as” más línguas” foi um casamento de conveniência, certo ou errado, ele vivia na sua adoração e na desvelada paixão onde ela era a razão da sua existência. Pouco depois de Natália morrer, Dórdio também morreu. Havia-lhe dedicado imensos poemas comovidos. Penso que se pode dizer que Dórdio Guimarães morreu de amor, ou da “falta do amor” de Natália.
Nasce nos Açores, em Setembro de 1923 e deixa-nos a 16 de Março de 1993. Queira-se ou não, faz parte do nosso património moral, estético e ético. Pertence-nos na sua luminosa diversidade e faz falta à vida portuguesa.





( … ) a obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas ( … ) in Wikipédia.

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