sábado, 2 de abril de 2011

A minha aldeia ...











A ALDEIA DO BAIRRO SENHORA DA LUZ



O Bairro Senhora da Luz, denominado até aos anos 70 por Lugar do Bairro, tem elementos físicos interessantíssimos do património rural desta região associados a rituais de convivência comunitária muito fortes. Associado à guerra peninsular, iniciada em 1808 e que só terminaria em 1814, já em território francês, o Lugar do Bairro poderá ser a vollage tantas vezes referida nos documentos históricos e nos relatos de historiadores, antropólogos e população local. Este lugar só passou a ter associado o nome da sua padroeira em inícios da década de 70 quando surgiram outros bairros no concelho de Óbidos, como é o caso do Bairro dos Arcos, do Bairro da Salgueirinha ou do Bairro da Raposeira. Perante sistemáticos enganos por parte dos carteiros na entrega das cartas os habitantes do Bairro, por iniciativa própria, começaram a escrever na correspondência Bairro Senhora da Luz ao invés de Lugar do Bairro como faziam até então. Situada na Freguesia da Santa Maria, a aldeia do Bairro Senhora da Luz pertence ao concelho de Óbidos e ao distrito de Leiria respectivamente, situando-se entre a vila de Óbidos e a cidade das Caldas da Rainha. A ocidente da Lagoa de Óbidos, o Bairro tem como principal actividade económica a agricultura, nomeadamente a produção de cereais, vinho, legumes e alguma fruta característica de todo o concelho. Os produtos agrícolas na sua maioria são para consumo próprio, no entanto existem agricultores a vender para o comércio tradicional e para os hipermercados dos concelhos de Óbidos e Caldas da Rainha. Nunca foram muitos os agricultores que possuíam terra e que se dedicavam exclusivamente à agricultura. Muitos habitantes repartiam a sua actividade laboral pelo trabalho nas quintas, principalmente na Quinta do Negrelho, e o trabalho nas várias minas de gesso e carvão existentes no Bairro Senhora da Luz. É na primeira década do século XX que começa a actividade mineira nesta aldeia, depois de descobertos o gesso e outros minerais congéneres. Há então um desenvolvimento económico mais acentuado com impacto no aumento do número de famílias e consequente crescimento urbanístico. “Atendendo à sua localização geográfica, entre Caldas e Óbidos, a aldeia foi palco dos primeiros confrontos da Guerra Peninsular, a quinze de Agosto de 1808, dois dias antes da batalha da Roliça que opuseram o exército luso-britânico ao francês. Com efeito, segundo os historiadores João Pedro Tormenta e Pedro Fiéis, o “moinho de Brilos” onde esse confronto terá acontecido é o moinho ainda hoje existente na proximidade da capela de Nossa Senhora da Luz” (in http://www.santamaria-obidos.com/) Até 1963 o Lugar do Bairro estava completamente isolado. Os caminhos davam apenas para passar a pé, de burro, de carroça ou em carro de bois. “Para passar de motorizada ou de bicicleta só se conseguia entrar e sair do Lugar do Bairro pelo caminho da Toiça”. Os primeiros automóveis a vir ao Bairro foram dois autocarros que vieram buscar os habitantes para uma excursão pela costa marítima para a feira popular, designada a volta saloia, em 1961. Esta excursão foi organizada pelo “Grupo Excursionista Os Alegres”, formado por alguns habitantes do Lugar e liderado por José Júlio Ribeiro. Nessa altura alguns dos habitantes juntaram-se para “rossar mato” e alargar um caminho para passar os autocarros. Em 1963 foi aberta a estrada para Óbidos, com o alargamento do caminho do Serafim Ramos, que ligava o largo do Coreto à ponte do Rio Quente . Os primeiros carros a vir ao Bairro foram os táxis de Óbidos, do Sr. João Fonseca da Silva, conhecido por João Carvoeiro . O primeiro habitante a ter carro foi o Sr. Manuel Destapado, “um Mini, para transportar a mercadoria para a Mercearia”. Mais tarde, em 1976, construiu-se a estrada para Caldas da Rainha, pelo caminho do Salgueiro e pela Estrada Funda. CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONÓMICA DO LUGAR DO BAIRRO Equipamentos Culturais, Desportivos e de Lazer Sport Clube do Bairro (1944); Um parque de jogos; Um recinto do jogo da bola. Equipamentos Sociais Santa Casa da Misericórdia; Centro de Dia – Projecto Melhor Idade do Município de Óbidos (2005). Equipamentos Religiosos Igreja Senhora da Luz; Igreja Assembleia de Deus. Estabelecimentos Comerciais Café Castiço. Na década de 70 chegaram a existir quatro tascas: A tasca do Teodoro de Almeida, a tasca do José Maltez, a tasca do Joaquim Júlio e a tasca do Francisco Jorge; Minimercado Senhora da Luz; Duas oficinas de mecânico; Um pronto-socorro; Uma empresa de mudanças; Uma oficina artesanal de sapateiro (já houve 4); Uma área de serviço da A8 (auto-estrada). Agricultura e Criação de Gado Uma empresa de produtos agrícolas; Um aviário de perus; Sete agricultores com tractor; Seis agricultores com dedicação exclusiva à actividade; Cerca de dez agricultores a conciliar a agricultura com outras actividades laborais; Uma vacaria (no Casal da Figueira).

( já nada disto existe)

Minas Duas explorações de gesso (já houve mais duas minas de gesso extintas na década de 60); Os habitantes do Bairro falam na existência de uma mina de cobre no casal da Avarela, no entanto nem os mais antigos se lembram de a ver em actividade. PROCISSÕES E ROMARIAS As primeiras procissões no Lugar do Bairro surgiram na década de 70, depois do 25 de Abril de 1974. No dia 26 de Dezembro faz-se a procissão em honra da Senhora da Luz e recentemente tem-se feito a procissão das velas, sem data definida e a Via-sacra na Quaresma. Festas em Honra da Senhora da Luz O dia da Senhora da Luz, padroeira do Lugar do Bairro, é a sete de Setembro, no entanto, há mais de cem anos, as festas em honra da padroeira passaram para o dia 26 de Dezembro, dia de Santo Estêvão. Esta alteração deve-se ao facto de “em Dezembro não haver trabalho agrícola e as pessoas terem mais tempo para se dedicar às festas”. As festas duram quatro dias, com inicio no dia vinte e seis de Dezembro e terminando no dia vinte e nove do mesmo mês. Todos os anos se juntavam pessoas para organizar a comissão de festas. Havia o juiz que organizava a festa, a juíza que era a moça nova que zelava a igreja e os mordomos que ajudavam na organização das festividades. A Batatada No dia 1 de Janeiro fazia-se a batatada, por altura da entrada da nova comissão de festas. Nesse dia fazia-se o peditório do espeto pelos casais circundantes. As pessoas davam “chouriças, toicinho, laranjas, batatas-doces e maças, fazendo-se posteriormente o leilão porta a porta para angariar fundos para a festa seguinte”. A angariação de fundos tinha continuidade normalmente aos domingos nas aldeias dos concelhos de Caldas, Óbidos e Peniche. No dia 8 de Dezembro fazia-se o peditório no Lugar do Bairro. Esperava-se que os habitantes dissessem quanto dinheiro poderiam dar e “de acordo com a verba alcançada organizava-se a festa”. A recolha deste dinheiro era feita nos dias 25 e 26. A festa começava ao dia vinte e seis com a Banda Filarmónica que actuava durante todo o dia. Da parte da manhã a Banda tocava em cortejo e recolhia-se o dinheiro indicado pelas pessoas no dia 8 de Dezembro. A missa começava normalmente às 15 horas e era acompanhada pela Banda que depois ficava a tocar até ao final do dia. Neste dia, não era permitido fazer Baile limitando a animação aos rituais religiosos. A partir do dia vinte e sete dava-se início aos bailes no largo do coreto. Os acordeonistas, bandas e conjuntos tocavam em cima do coreto ou em cima de carros de bois encostados à igreja e com as laterais forradas a esteira ou a caniços. “Chegavam-se a fazer três bailes no mesmo dia, mas em três locais diferentes do Lugar, desde o pôr-do-sol de um dia até ao nascer do sol do outro e sempre com público”. No dia vinte e oito ninguém podia trabalhar nem dormir após a alvorada. Os habitantes mais antigos do Bairro conhecem esta tradição desde sempre, terminando definitivamente em meados da década de oitenta. Era o dia das multas. Depois de se deitar o ultimo foguete da alvorada todos os habitantes que fossem apanhados a trabalhar ou a dormir eram recolhidos numa carroça, carro de bois ou padiola e levados e exibidos perante o povo. Muitas pessoas eram recolhidas com a roupa que tinham no corpo, muitas vezes em pijama ou camisa de dormir. Todos os infractores pagavam a multa nas tabernas do lugar com a oferta de bebidas a todos os presentes. Na noite de 27 para 28 “a malta nova ia com os cobertores para o baile para depois dormir em celeiros ou em casas desabitadas e assim evitarem ser apanhados na manhã seguinte a dormir” livrando-se do pagamento das multas.

OS CAMINHOS RURAIS Caminho da Ganância (liga a aldeia ao rio do povo) Caminho da ponte de pedra (liga a aldeia à quinta do Negrelho) Caminho da Cardadoura (ligava a aldeia a trás do Outeiro e às Caldas) Caminho do Talefe Caminho do Outão Caminho do Serafim Ramos (liga a aldeia a Óbidos) Caminho da Pontica (passa no poço da Várzea e leva à estrada das Caldas) Caminho do Salgueiro Caminho da Seixeira (actual rua da sancheira) Caminho da Toiça Estrada Funda Caminho do Salgueiro O jardim do Bairro, actual Largo do Grilo, anteriormente (até à década de 70) era conhecido pelo largo da Delmira. Pelo que parece ao longo dos tempos era atribuído o nome de acordo com o nome de pessoas que iam habitando casas viradas para este largo. ( este jardim tem 10 m2 )

A Aldeia do Bairro Senhora da Luz A ocidente da Lagoa, numa das estradas de ligação entre Óbidos e Caldas da Rainha, a aldeia do Bairro, com uma existência documentada desde a época medieval, parece ter assistido a um crescimento demográfico reduzido mas contínuo, a partir de meados do século XVII, evoluindo de dezanove famílias, em 1657, parra quarenta, cerca de cem anos depois (1764). Tal crescimento demográfico traduziu-se também num crescimento urbanístico a partir da denominada Cruz do Bairro (topónimo setecentista que poderá referir-se ao cruzeiro existente num dos extremos da aldeia) até ao Largo (o Rocio), referenciado pelos menos a partir dos finais do século XVII. Não existindo hoje nenhuma referência ao “Rocio” podemos supor que ele se localizaria junto à capela da localidade, no actual Largo do Coreto. A capela, de evocação de Nossa Senhora da Luz, terá sido construída nos inícios do século XVIII, para responder às necessidades religiosas de uma população em crescimento. Em 1733, através das Visitações de São João Baptista do Mocharro, sabemos que já está aberta ao culto a alguns anos, sendo urgente restaurar o telhado, mas que não estará ainda concluída, uma vez que o Visitador ordena que se construa a torre sineira. Recentemente restaurada ainda hoje aí se celebra, a vinte e seis de Dezembro, a festa de Nossa Senhora da Luz que o autor das Memórias Históricas refere ter tido, em épocas anteriores, muitos visitantes da região. Tal como no caso das outras aldeias da freguesia, a actividade principal foi sempre a agricultura praticada em terrenos próximos da localidade (Cruz do Bairro, Poça do Bairro, Seixeira, Senhora da Luz) e na zona envolvente (Arelho; Avarela, Trás do Outeiro) com a produção de cereais, vinho, azeite, legumes e alguma fruta). A descoberta de gesso e outros minerais congéneres, na primeira década do século XX, levou ao desenvolvimento, na zona do então casal da Avarela (região de matos e vinhas) da actividade mineira que, ainda hoje aí se desenvolve. Atendendo à sua localização geográfica, entre Caldas e Óbidos, a aldeia foi palco dos primeiros confrontos da Guerra Peninsular, a quinze de Agosto de 1808, dois dias antes da batalha da Roliça que opuseram o exército luso-britânico ao francês. Com efeito, segundo os historiadores João Pedro Tormenta e Pedro Fiéis, o “moinho de Brilos” onde esse confronto terá acontecido é o moinho ainda hoje existente na proximidade da capela de Nossa Senhora da Luz. Consulte aqui a planta da aldeia… Fonte: Site da Freguesia de Santa Maria – Óbidos


Pesquisa de Miguel Oliveira - 2009 - Net

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