domingo, 2 de maio de 2010

Dia da mãe .....

Mãe, este poema é para ti!.....
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No mais fundo de ti
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
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Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais
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Por isso, às vezes as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
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Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração no retrato da moldura!
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Se soubesses como ando amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
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Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
e até meu coração
ficou enorme, mãe!
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Olha - queres ouvir-me?
às vezes ainda sou a menina
que adormeceu nos teus olhos;
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ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
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ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal... "
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Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
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Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
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Não me esqueci de nada mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
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Eugénio de Andrade

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