A conversa começava sempre à
tarde e terminava quase na hora do jantar. Tínhamos tempo! Coisa rara hoje em
dia! E as idas ao banco? Antes, sem internet nem multibanco, conhecíamos os
funcionários e os tratávamos com a dignidade e o respeito que mereciam. A mesma
coisa com o padeiro, com o motorista do autocarro e com o carteiro. As nossas
relações e nossa vida eram mais artesanais e mais elaboradas, como a receita do
bolo feita em casa tem sempre um sabor mais agradável.
Relações que eram cultivadas,
regadas e alimentadas com respeito. Bem sei que com a evolução, hoje muito
facilmente se sabe o que vai acontecendo com a humanidade. E isso é uma cosa
boa!!
Mas, a era industrial e
tecnológica parece ter-nos transformado em máquinas. Nas filas as pessoas ficam
impacientes, o clima por vezes torna-se hostil e não há gentileza nem troca. Aquele
bom-dia sem olho no olho que não é bom nem para quem dá nem para quem ouve. Não
ouvimos o outro. Não olhamos o outro. Andamos solitários, massacrados e
reduzidos a quase nada.
Os sorrisos tornaram-se
obrigações de cordialidade. Sorrisos de quem não quer sorrir.
A doença da modernidade e que
atinge milhões é a “crise da impaciência adquirida”. Pés inquietos, unhas
roídas e dedos nervosos nos jogos de telemóveis, iphods , e por aí fora….
Doença triste, silenciosa, mata
sem que se percebam. E mata não somente o doente, mas também o alvo no momento
da sua crise. A crise ocorre no trânsito, numa fila qualquer, no aeroporto e é
altamente contagiosa nos grandes centros. Já tornou uma epidemia que se alastra
por todo o mundo.
O Buda já dizia que “ a paciência
é uma das mais altas virtudes”, uma dica velha que se faz urgente para essa
epidemia que acomete a população mundial.
Esquecemos que a experiência
sagrada da vida se faz a cada instante, como diz genialmente Leonardo Boff: “A
experiência do mistério não se dá apenas no êxtase, mas também, quotidianamente,
na experiência de respeito diante da realidade e da vida.”
A mística não é o privilégio de
alguns bem-aventurados, mas de uma dimensão da vida humana à qual todos têm
acesso”. Como perceber o sagrado se estamos tão envolvidos com pequenas coisas
do quotidiano que nos aprisionam? É na simplicidade que nos encontramos e
podemos partilhar a plenitude do Universo.
Talvez pratiquemos unicamente
para sermos humanos no significado mais profundo que esta palavra pode ter.
Talvez, para curar a complexidade e ser simples. Talvez, para esculpir com o
barro a vida com obras de amor, de paz, de generosidade e de tolerância.
Talvez, para que possamos olhar nos olhos quando falamos com alguém. Talvez,
para que o sorriso seja de franqueza. Talvez, para nos libertar do vago
sentido. Talvez, para dar sabor mais agradável à vida, como o tal do bolo feito
em casa.
Ou quem sabe, para comungarmos o
ideal de um mundo mais justo. Talvez, para que nossos encontros engrandeçam a
nossa jornada.
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