quarta-feira, 11 de julho de 2012

90 anos - 91 rosas ....




Mais voltas que dê à minha cabeça, não consigo encontrar nada melhor para dedicar à minha mãe, do que este poema de E.A., é que aqui está escrito tudo aquilo que eu quero dizer e não consigo !!!, por conseguinte sempre que falar da minha mãe seja pelo motivo que fôr ele (poema) aparecerá sempre. Hoje é por ter sido os seus lindos 90 anos !!!!

Poema à Mãe



No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe  

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.  

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.  

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.  

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.  

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.  

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!  

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou a menina
que adormeceu nos teus olhos; 
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura; 
ainda oiço a tua voz:

          Era uma vez uma princesa
          no meio de um laranjal...  

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu
e fiz-me ao mundo!
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada,do que me ensinas-te mãe.
E guardo a tua voz sempre  dentro de mim.
Mas,  deixo-te as rosas,
e continuo a andar com as aves.

Boa noite mãe ….



Eugénio de Andrade

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