Este blogue não é de leitura obrigatória mas, traduz-se por abrir janelas e deixar entrar sem nenhum medo outros olhares ... aqui, será o encontro com aqueles que tal como eu, apreciam as palavras, as letras a natureza, o sol a poesia e o amor. ......Todos nós somos feitos de pedaços, pedaços de gente, pedaços de terras por onde passamos, pedaços de cultura, de arte, de música, de vivências, de amor ou tristeza, cabendo a cada um saber tirar partido do melhor pedaço que há em si.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
António Gedeão ...
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
Aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
Não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
Essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
Se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
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