Este, hoje , amanhã, depois de amanhã ....
É já na próxima segunda-feira, dia 10 de Outubro de 2016 que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental,
A doença mental é um problema social, muito maior do que aquilo que se possa pensar e, lamentavelmente apesar da minha / nossa luta de inclusão, e de acabar de vez com os estigmas a Sociedade ainda não
aceita devidamente, vai aceitando obrigatoriamente, visto já haver bastante informação sobre este assunto, que durante anos e anos foi Tabu.
Até nós conscientes ou
inconscientemente, também nos custa a aceitar e muitas das vezes até pensamos que acontece só aos outros, a nós nunca ... infelizmente sabemos que não é assim, que, de uma hora para a outra tambem nos bate à porta, ao fim e ao cabo como qualquer doença...
Este texto acompanha-me desde 2010, e quando é preciso falar deste assunto, lá aparece ele. Penso ser sempre o melhor para abordar este assunto tão delicado.
Ele foi retirado inteiramente de um blogue
que casualmente encontrei naquele ano, mas, já está tão modificado por mim, que já o considero quase meu. Achei-o extremamente elucidativo e ao mesmo tempo muito fácil de leitura para o assunto que é de tão sensível de abordagem. Aqui está tudo dito... ...
"No romance Na Praia de Chesil (Ian Mcewan), há um
garoto cuja mãe tem comportamentos estranhos, diferentes dos das outras
mulheres. Ele tem a percepção de que mãe é diferente mas aprende a lidar com
essa diferença. E cria um cenário de normalidade na sua relação com ela. É
diferente mas, no fundo, todas as pessoas são diferentes. A mãe é a mãe, as
outras mães são as outras mães.Um dia, tendo ele já 14 anos, o pai tem uma
conversa com ele. É então que a criança, pela primeira vez, ouve a expressão
"perturbações mentais" associada à mãe. Ficou chocado mas, no fundo,
diz o narrador, na cabeça dele teria apenas que persuadir-se do que sempre
soubera. Ou seja, do que ele já sabia sem saber. "Claro que sempre
soubera. Fora mantido num estado de inocência em virtude da ausência de um
termo para designar a doença da mãe. Nunca pensara nela como uma doente e, ao
mesmo tempo, sempre aceitara que ela era diferente. Devido a essa simples
expressão e à capacidade das palavras de tornarem visível o invisível, a
contradição estava resolvida. Perturbações mentais. O termo dissolvia a intimidade,
media friamente a mãe com um padrão público que toda a gente podia
entender".A minha dúvida é a seguinte. Estará correcto o narrador quando
diz, a respeito deste caso, que as palavras têm a capacidade de tornarem
visível o invisível?Eu tive um tio esquizofrénico. Quando eu era garoto o meu
tio, para mim, era apenas um tipo excêntrico. Dava com ele a falar sozinho,
ficava envolvido em estranhos silêncios, escrevia poemas que me dava a ler e
dos quais eu nada entendia, e tinha um violino. Passava o tempo livre a ler,
sabia coisas que pouca gente sabia. Mas gostava de jogar comigo ao 21 e
levava-me a passear. Sentia que gostava muito de mim e, mais tarde, era eu já
adulto, percebi melhor que gostava mesmo com aquela sublime afectividade com
que um cão gosta do seu dono.E foi já tarde que descobri que, afinal, a
excentricidade poética e comportamental do meu tio eram devidas a uma doença
chamada esquizofrenia. Que tinha começado a ficar assim quando, jovem, tinha
ido estudar Direito para Lisboa e começara a ouvir vozes e a desenvolver uma
mania da perseguição. Ou seja, acabara de descobrir um tio com problemas
psiquiátricos.Agora, será que possuir uma palavra (ou um conceito) para
caracterizar uma pessoa, ajuda a ver melhor a pessoa? Não falo da doença da pessoa
mas simplesmente da pessoa. Num certo sentido sim. Um esquizofrénico é um
esquizofrénico, um português é um português, um sueco é um sueco, um judeu é um
judeu, um árabe é um árabe, um agente de uma companhia de seguros é um agente
de uma companhia de seguros. E daí? O que nos dá isso a ver a respeito dessa
pessoa? Até que ponto o nome, a etiqueta, a chapa mental que identifica a
pessoa através de um conceito ajuda a vê-la melhor? Até que pontos os ínfimos
átomos dispersos de que a pessoa é feita não são ofuscados pela granítica
rigidez do conceito?Até que ponto a criança que não tem consciência de que a
mãe sofre de "perturbações mentais" não a verá melhor do que a
senhora da padaria ou o homem do talho que olham para ela como pessoa com "pertubarções
mentais"? Um olhar mais limpo, mais isento, mais objectivo, mais despido
de convencionalismos sociais tantas vezes artificiais e ocos?""
Por ter uma situação passada com o autor, não tenho o direito de retirar a fonte de onde vem este artigo ..,....
Blogue de José Ricardo Costa
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